sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sombra

Eis que surgiu a sombra.
Poderia ser refrescante,
poderia ser toda prazer,
o prazer do dia de Sol...

Era apenas escuridão.
Sob o Sol e sob a Lua
espalhava-se pessimista
sem olhares cristalinos.
O cristalino dos olhos?
Sombra nebulosa apenas!
Lágrimas, muitas lágrimas.

Passos após passos ia,
uma massa disforme ia...
Sombra sob o Sol!
Sombra sob a Lua!
Passos compassados demais...
Cegos se amarravam
num prazer masoquista.
Cegos se perdiam
nos caminhos alheios.
Tolos se rendiam...

E aquela pobre sombra?
E a aquela pobre sobra
da inteligência sensível?
Sem sombra de dúvidas
nada de sobras de luz.

Oh, contradição da luz!
Sombra nasce da luz!

Eis que surgiu a luz.
Seguia rachando o solo,
expondo feridas antigas,
alimentado verde novo!
E o sangue fervia!

Um cego tropeçou então...
Do Um nascem todos!
A luz ofuscou o cego!
Sob as mãos, os astros!
Lua e Sol se amando...

O prazer antigo nasceu
da bomba de decepção.
Uma massa de pluralidade!

As lágrimas cristalinas
lavavam o olhar cego,
mostrando novas formas.
Estava entre sobrancelhas,
ali no meio da testa
como um tiro certeiro.

Nascia um sorriso,
estranho, mas sorriso.
O tempo muda a estranheza,
o tempo traz o hábito,
sem sombra de dúvidas!
A sobra de sombra jazia.

Ah, contradição da luz!
Luz nascendo da sombra.
Sombra nascendo da luz.
Luz morrendo na sombra.
Sombra morrendo na luz.

E tudo existindo dentro.
___
Para a amiga e incentivadora, Izabel. E que Jung não se perturbe.

7 comentários:

Lapa Levana disse...

...

Victor Requião disse...

Na altura do que se via
Haviam rostos entre máscaras
Varias formas, varios olhos desformes
E assim eram um em completo desconexo.

E então um revelou-se, mostrando o que surgia.
A sombra revolta, entre o tremular da forgueira que ardia.

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Sabemos, irmão, o que passos que demos e o quanto misturamos nós mesmos a todas as forças. Mesmo que muitas vezes a beleza do desconexo se mostre presente, e assim não seja entendido de primeira. Mas no fundo sabemos que há as montanhas, o frio das águas que caem, e os caminhos a serem trilhados por nós. Prepare os pés!

Anônimo disse...

ai soluz menino tão lindo e com sobras de luz, só luz, soluz. Nem vou comentar agora, pois a emoção é muito grande de ler essa ode à força e brilho da vida. Mais tarde voltarei, bem sabes que penso melhor à sombra, natural, já que da sombra observa-se com nitidez a luz.
Por agora consigo apenas balbuciar um muito, muito, muito obrigada por ter atendido ao meu apelo.

Beijos
i.

Cíntia disse...

A dualidade yin/yang que o mundo carrega em toda a sua essência. Para haver sombras é necessário luz, para ficar cego é preciso enchergar!
Muito belo texto!
Bjokas

Mai ۞ disse...

o que é belo tem que ser comentado, até mesmo um desconhecido sente o que talvez sentiu, sinto...
"Luz nascendo da sombra.
Sombra nascendo da luz.
Luz morrendo na sombra.
Sombra morrendo na luz."
e estamos verdadeiramente conectados, humanos...astros...em um todo... e essa terra vive toda essa Luz e toda essa sombra que rodeia. lindas palavras soluz mt prazer e vai descupando essa ousadia minha foi o sentir rsrrsrs e o agir .

kelen disse...

passeando cai aqui
Rarefeitos escritos docemente verdadeiros, reverberam ca dentro as linhas que preencheram este espaço. Adorei. convido-te para um chá no meu
http://ideianoar.blogspot.com/
abraços poéticos

Anônimo disse...

a dualidade se finda quando vê-se em soma...

a sobra e a consciência se somam e beleza, a separação não é possivel... quanta beleza se esconde quando o feio está claro, e vice-versa.

Lilith e adão não conseguiram, ela queria no claro ele no escuro... Eva representa o amor na escuridão... somos assim filhos do tempo...

beijo meuenispou