sábado, 16 de janeiro de 2010

Uma Breve Viagem (15/10/2003)

Quando eu era criança ouvia estórias contadas por minha avó, por minha mãe e por uma das moças que moraram conosco, tendo por finalidade nos ajudar com as tarefas da casa. Eu gostava muito quando, antes de dormir, podia ter aqueles momentos de pura fantasia. Porém, as estórias que mais me empolgavam eram contadas por homens e mulheres da roça que, rompendo as noites escuras, através da estrada de chão, chegavam na fazenda onde passei muitas férias com meu pai e parentes.

As noites daquele lugar traziam, sempre, um clima mágico: escuridão estrelada, pássaros que gritavam, morcegos em vôos rasantes e, principalmente, os espíritos pagãos, conhecedores dos "mistérios" da mata fechada e da névoa que se misturava à luz da Lua. Tudo me fascinava e movia a fértil imaginação infantil. Aqueles espíritos pagãos, homens e mulheres da roça, pareciam conhecer minha curiosidade, pois sempre surgiam com estórias mais diferentes e sobre as mais variadas personagens. Era interessante como muitas vezes eles conseguiam transformar certas histórias em estórias, digo, eles me faziam confundir umas com as outras.

Onças, lobisomens, cobras enormes, caiporas, vultos desconhecidos, entre outros, eram atuantes certos daqueles espetaculares contos noturnos que, com facilidade, me faziam "viajar" por ilusões e ideias. Praticamente era transportado para outros mundos e, de certa forma, me era permitido vislumbrar algo da subjetiva criação pela qual, em determinados momentos, podia me deparar comigo mesmo e com algumas das minhas vontades, facilidades e dificuldades.

O tempo passou e, aos poucos, a força e vida dos monstros e heróis das estórias foram se esvaindo. Hoje, com certa frequência me pego pensando na felicidade que aquelas noites me traziam. As recordações daqueles tempos me fazem refletir e, numa dessas reflexões, me veio a pergunta: por que aquelas estórias me encantavam tanto? Não sei ao certo, mas acredito que a vida daqueles "causos" estava na aventura que eles me permitiam. Haviam os momentos de medo, pois a mente me pregava suas peças, mas isto não impossibilitava o mergulho pleno naqueles mundos trazidos de forma tão sublime.

Ao que percebo, o X da questão estava na curiosidade e na vontade de que a estória não chegasse ao seu fim. A felicidade estava em não saber onde aquilo tudo ia me levar e, mesmo assim, me deixar levar. A alegria estava em desbravar, absorto, os "mistérios" cheios de sabedoria e novas possibilidades! Mas essa percepção me traz uma nova pergunta: por que, ao "crescermos", passamos a nos preocupar tanto com o final e deixamos de prestar atenção aos ricos detalhes?

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei o texto, Sol!
O último parágrafo, em especial,
me fez lembrar algumas coisas... parece você falando dos meus medos...
Saudade!

Beijo!
Pequena

Ana Carolina disse...

Belíssimo, vivamos o hoje, viver é AGORA! E engraçado o quanto sabíamos disso quando crianças, sabedorias que alguns mantém, outras a esquecem, com o tempo... =P

Carol Carambola

Frida Cores disse...

ahhh, o moço que me confundiu no porto (com alguém da cayru) segue meu blog...

Frida Cores disse...

hahaha... não tem mistério... vc segue meu blog. e tem uma foto sua lá. inclusive, monica me disse q vc gostaria de entrar pro blog. ela me passou seu mail, até escrevi pra vc, pra saber se vc quer mesmo, se ja tem alguma coisa escrita e tal, mas o mail voltou. então, me manda um mail, se tiver mesmo interesse, para conversarmos melhor. bjo!
livrodefrida@gmail.com

Anônimo disse...

Ah nossas imaginações da infância.. Lembro de todas as minhas e fico saudosa.. Dá vontade de voltar no tempo para ter aquela ingenuidade novamente, mas ao mesmo tempo penso: Se ao nos tornarmos adultos não perdêssemos certos pensamentos que só temos quando criança, que graça teria ser criança?? O bom de tudo isso é poder recordar! ;]

Adorei!

Beijo de seu chocolate!

Saudade sempre...